

Era o primeiro casamento na família Domingos e a Maria nunca tinha estado tão entusiasmada na sua vida. "Vou ser a dama de honor da Paulinha, com um vestido e sapatos novos", disse ela às suas galinhas.
A Maria contou tudo às suas galinhas. O seu pai tinha-lhe dado as galinhas como prenda de aniversário e ela gostava muito delas.
"Tira daqui essas galinhas sujas e imundas!" gritou a mãe da Maria.
"Não as quero perto da tenda do casamento".
A Maria expulsou as galinhas da tenda.
"Fujam, galinhas tontas", disse ela.
"Não quero que vocês sirvam de comida no casamento da Paulinha!"
"A mamã diz que este vai ser o melhor casamento alguma vez visto em Malaleia", disse a Maria às suas galinhas, "E ela diz que eu posso ajudar todas as raparigas mais velhas com a cozinha".
Mas as galinhas não lhe prestaram atenção.
"Maria!" chamou a mãe lá de dentro, "Deixa essas tuas galinhas e vem ajudar-me com estas panelas, por favor!
A mãe da Maria tinha muito orgulho na sua casa e queria que ela estivesse perfeita para o casamento. Ela limpou e lavou e esfregou e poliu tudo o que estava à vista.
Quando terminou de limpar, não havia uma única mancha de pó em lado nenhum.
As galinhas enfiaram as suas cabeças pela porta da frente adentro. "Fora!" gritou a mãe da Maria, "Fora, suas coisas imundas com essas vossas patas e bicos todos sujos!"
A Maria seguiu as galinhas até ao pátio. "A mamã tem razão, vocês são uma vergonha", repreendeu-as.
Então, a Maria pôs-se a pensar durante algum tempo. De repente, sorriu e disse para si própria: "Tenho uma excelente ideia". E foi à nascente buscar um balde com água.
A Maria teve muita dificuldade para conseguir apanhar as galinhas. As galinhas não achavam que um banho fosse uma ideia assim tão boa.
A Maria pôs a primeira galinha no balde de água. A galinha cacarejou a plenos pulmões e batia as asas como louca.
"Fica quieta, tonta", gritou a Maria, "Isto não vai demorar muito!"
Quando a Maria limpava o nariz e os olhos da galinha, a galinha de repente ficou como morta na borda do balde.
"Não é hora de dormir", disse a Maria. E deu-lhe uma boa sacudidela para tirar toda a água. "Se não acordares agora, terei de te pôr num sítio para ficares bem seca", disse ela.
Ela pôs a galinha estendida na relva, a secar. A galinha ficou completamente imóvel.
A Maria deu banho a todas as galinhas, uma de cada vez. Todas elas, todas, caíram como mortas, desmaiadas, antes de ela terminar de dar banho. Depois, pôs todas as oito galinhas em fila na relva, a secarem. Nem uma moveu uma única pena.
"Vou deixá-las dormir um pouco", pensou a Maria e foi ver as panelas.
A senhora Migas e a senhora Gina eram tias da Maria. Elas não gostavam, nem um pouco, uma da outra.
As tias andavam a preparar-se há meses para o casamento da Paulinha, mas nem sequer conseguiam andar juntas no mesmo táxi.
A tia Migas viu as galinhas da Maria, em fila, a secarem. "Que lanchinho agradável para eu levar para casa", disse ela para si própria.
Ela tirou o seu pano e envolveu cuidadosamente todas as galinhas nele. Nem uma única galinha se mexeu.
"Óptimo!" ela sorriu, "Agora vou colocá-las num sítio onde a tia Gina nunca as encontrará", e escondeu a trouxa no canto, no meio das folhas de abóbora.
A tia Gina decidiu fazer o seu famoso prato de abóbora. Pegou na sua grande tigela e foi até à horta.
Na horta, ela encontrou a trouxa da tia Migas debaixo das folhas da abóbora. Ela desfez a trouxa. Todas as oito galinhas caíram.
"Eh lá!" ela gritou, aos pulos com a surpresa. "Oh, vocês são as galinhas mais limpas e mais bonitas! Mesmo prontinhas para a minha panela", ela cantou. "Agora, onde vos hei-de esconder, minhas lindas?" A tia Gina riu-se, "Vou ter de encontrar um lugar muito bom", disse ela procurando à volta da casa.
"Já sei", disse ela finalmente, "Vou pôr-vos no telhado!"
A tia Gina subiu ao muro do jardim e pôs as galinhas em fila no telhado de colmo.
No dia seguinte, o sol nasceu à hora certa para o casamento.
A Maria foi a primeira a levantar-se e foi ver as suas galinhas. Quando chegou, viu que elas já não estavam estendidas na relva.
"Já devem estar bem secas. Tenho a certeza de que foram à procura do seu pequeno-almoço", disse ela.
O casamento da Paulinha foi maravilhoso.
As galinhas não saíram do telhado para se juntarem à festa, enquanto todas as damas de honor dançavam no pátio.
Nenhuma galinha se mexeu quando o coro da igreja cantou com as suas mais altas e melodiosas vozes.
As galinhas ainda estavam estendidas no telhado quando o padre fez o seu sermão.
Nem sequer abanaram uma pena quando o avô da Maria e os porcos roncavam alto no meio do sermão.
Nem uma pata daquelas galinhas se mexeu quando as ovelhas entraram na tenda, quase derrubando o bolo de casamento.
Apenas quando o pai do noivo estava a meio do seu discurso, é que as coisas começaram a mudar naquele telhado.
A primeira galinha abriu as asas e voou para o colo da tia Migas. A tia Gina ao seu lado começou a rir.
Outra galinha voou para o chapéu novo da tia Migas. As pessoas da mesa ao lado tentaram não rir.
A senhora ao lado da tia Migas pôs a cabeça debaixo da mesa, "Ai, aai, aaaaii, acudam!", ela gritou.
Todas as outras galinhas decidiram juntar-se às duas primeiras.
Era quase impossível conseguir ver a tia Migas com tantas galinhas em cima dela!
Os convidados desataram às gargalhadas. Os homens tiveram de se agarrar à barriga. As mulheres rolavam nas suas cadeiras.
Os rapazes e as raparigas agarravam-se uns aos outros. As avós mal conseguiam respirar para rir. Os avôs agarravam-se às suas bengalas.
Então, as duas tias olharam uma para a outra e começaram a rir.
A tia Gina começou a rir às gargalhadas, com a boca toda aberta.
A tia Migas atirou a cabeça para trás e riu-se até todos os seus queixos começarem a abanar.
A Maria não queria acreditar no que via!
Todos os convidados disseram que esta tinha sido a melhor festa de casamento alguma vez realizada em Malaleia.
"Oh, vocês têm tanta sorte!" disse Maria às suas galinhas enquanto as colocava no galinheiro para passarem a noite.
"A mamã diz que vocês nunca irão parar à panela do jantar".
"Mas vejam só como vocês estão outra vez sujas", disse.
"Acho que amanhã vou ter de vos dar banho... mais uma vez!"

